qua. set 17th, 2025

Minas Gerais concentra mais da metade dos tremores de terra detectados no Brasil neste ano, colocando o estado no topo do ranking nacional de eventos sísmicos recentes. São 18 ocorrências de um total de 34 em território brasileiro — fenômeno que, embora surpreendente para muitos moradores, desperta debates técnicos sobre prevenção, monitoramento e segurança.

Tremores sentidos, medo real

A Região Metropolitana de Belo Horizonte tem sido palco frequente de abalos que ganham visibilidade porque são percebidos pela população. Um dos mais notórios teve epicentro em Contagem, com magnitude de 2,9 na escala Richter — intensidade que, embora pequena, é suficiente para causar estranheza: imóveis vibrando, estrondos durante a noite, sustos e relatos de moradores que confundem o tremor com intempéries externas ou tráfego pesado.

Em muitos casos, porém, os tremores são imperceptíveis ou percebidos apenas como vibração sutil do solo ou de objetos domésticos — reflexo da baixa magnitude habitual desses eventos. Também se percebe que eles ocorrem em horários inusitados, aumentando o impacto psicológico: noite ou madrugada, quando há silêncio, são momentos em que qualquer ruído ou vibração parece amplificado.

Por que Minas?

Especialistas em geologia apontam que Minas Gerais está inserido num ambiente tectônico considerado “estável” para os padrões globais — o Brasil inteiro está afastado das bordas de placas, que usualmente concentram os grandes terremotos. Mesmo assim, falhas geológicas locais, tensões acumuladas na crosta terrestre, além de estruturas geológicas complexas como dobramentos antigos, contribuem para que abalos de leve a moderada intensidade ocorram de tempos em tempos.

Outra característica importante é que muitos dos registros são captados por sensores bastante sensíveis espalhados em Minas. O estado também está investindo para incrementar essa rede, o que deve aprimorar a precisão na localização dos epicentros e hipocentros, bem como permitir uma distinção mais clara entre tremores naturais e impactos gerados por atividades humanas — mineradoras, por exemplo.

Medição, monitoramento e limites

A magnitude de 2,9 foi até o momento uma das maiores registradas localmente, ainda assim distante de provocar danos estruturais de monta. A Escala Richter, usada para quantificar esses eventos, é exponencial: cada unidade a mais corresponde a intensidade radicalmente maior. Dessa forma, tremores de baixa magnitude são esperados e, na maioria das vezes, inofensivos quanto a estruturas mais robustas.

Entretanto, a falta de danos visíveis não apaga a necessidade de políticas preventivas. O aumento da percepção pública — portas gritando, janelas vibrando, objetos sacudindo — cobra resposta institucional, sobretudo em regiões onde construções antigas ou em condições menos rigorosas podem ter vulnerabilidades.

Reforço no sistema

Visando reduzir incertezas e melhorar o entendimento geológico, há planos para instalar mais sismógrafos em pontos estratégicos do estado. Municípios como Sete Lagoas, Itabirito, Betim, entre outros, foram identificados como potenciais polos de monitoramento. A instalação desses dispositivos se alinha a uma demanda crescente: saber onde exatamente ocorrem os tremores, em que profundidade e com que frequência, para avaliar risco real para o cidadão comum.

Reflexo social

Mais do que estatísticas ou magnitude, o que chama atenção é o impacto emocional. Para quem sente o chão tremer, mesmo que por poucos segundos, o sentimento de insegurança aparece. E esse psicológico é importante, pois define comportamentos: há quem passe a exigir laudos de estabilidade, fiscalizações mais frequentes, informações públicas sobre o que está sendo feito para mitigar riscos.

Minas Gerais mostra, portanto, que estabilidade geográfica não equivale a imutabilidade. Enfrenta-se ali um cenário onde o solo, por suas características naturais e talvez pressionado por atividades humanas, revela tensões antigas que se manifestam em pequenos abalos. E o desafio está em transformar esse alerta em ações de monitoramento, planejamento urbano e conscientização — para que o tremor continue sendo apenas um susto, não uma tragédia.

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