qua. out 30th, 2024

Durante o tratamento, é possível manter a relação sexual saudável e prazerosa

 Milhões de pessoas no Brasil e no mundo são acometidas pelo câncer diariamente. Com o avanço da medicina a vida destes pacientes tem se estendido muito mais e hoje se fala num assunto que há anos era tabu: qualidade de vida e isto inclui vida sexual ativa.

Pois bem, como é a vida sexual dos pacientes com câncer, principalmente de pessoas ainda jovens que estão em plena fase ativa sexual?

De acordo com o oncoortopedista Marcelo Bragança, do Hospital Clementino Fraga Filho da UFRJ, a descoberta da doença gera um impacto importante na vida do paciente, afinal, são vários os medos e angústias que podem surgir neste momento. “O tratamento pode interferir, pois dependendo da terapia utilizada, como a quimioterapia ou até mesmo cirurgias, mudanças físicas podem acontecer, dentre elas perda de cabelos, novas cicatrizes pelo corpo e até mesmo secura vaginal.  Sem contar o mal-estar, com fortes enjoos e cansaço, que definitivamente não são nada animadores” explica o especialista.

Os números não deixam dúvidas: até 2030 são calculados 27 milhões de novos casos de câncer no planeta, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer- INCA e mais do que nunca é necessário falar sobre a doença e suas conseqüências. Neste cenário, abordar as formas de prevenção, os avanços da medicina e as formas de tratamento são aspectos importantes que envolvem a doença e devem ser esmiuçados. Cada vez mais cresce o número de pacientes que convivem com a enfermidade por anos e anos. As taxas de cura crescem, mas também as de sobrevida. É o momento de dar atenção e focar na qualidade de vida do paciente e não apenas no combate ao tumor. E por que não incluir a sexualidade nessa discussão?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que o sexo é um dos quatro pilares da qualidade de vida. A abordagem desse tema no tratamento de câncer no Brasil ainda não é uma realidade, mas vem ganhando força. “O sexo é importante para o paciente com câncer na mesma magnitude que é para o paciente sem câncer. Porém, para que ocorra, é fundamental que o organismo (corpo e mente) esteja em condições”, afirma Marcelo Bragança.

O especialista admite que, apesar da importância da vida sexual para o paciente – e o companheiro ou parceira – a maioria dos médicos não aborda sistematicamente o impacto do câncer e seu tratamento sobre a função sexual. “Problemas sexuais são geralmente negligenciados a menos que o paciente seja assertivo em uma situação de crise”, diz. Para ele, como primeiro passo, os médicos devem discutir o atual nível de atividade sexual do paciente antes de iniciar o tratamento. “A consciência de problemas potenciais irá ajudar o paciente a adaptar-se às dificuldades do pós-tratamento. A discussão pré-tratamento sobre sexualidade fornece uma base para comparação durante reavaliação após tratamento. Quando são identificados problemas específicos, os médicos podem programar com sucesso intervenções que não exigem treinamento extensivo em terapia sexual”, sugere Bragança, lembrando que são centenas os tipos de neoplasias e a vida sexual não é alterada em todos os tipos de câncer.

“Depende da natureza biológica, localização, história natural da doença, tratamento necessário. É fundamental a avaliação individualizada de cada caso”, comenta. No entanto, em dois tipos muito frequentes – o câncer de mama e o de próstata – o paciente, segundo ele, “em alguma etapa do tratamento, seja ele cirúrgico ou sistêmico (quimioterapia ou hormonioterapia), passará por modificações orgânicas que vão influenciar o desempenho sexual”.

Ainda de acordo com Marcelo Bragança, a abordagem do sexo no tratamento do câncer não está consolidada no Brasil. Nos Estados Unidos, já se fala em uma especialidade denominada oncosexology (ou oncosexologia, em tradução livre) para tratar as questões da sexualidade desses pacientes. “Vai muito da percepção que o oncologista tem do tratamento”. Ele explica a razão: “Durante muito tempo os médicos tinham a vivência de pensar o paciente com câncer como um paciente temporário. As taxas de sobrevida eram curtas. Hoje vivemos um estágio em que cada vez mais as taxas de cura são maiores e taxas de sobrevida mais expressivas. Determinadas questões que não apareciam 10 anos atrás, hoje são bastante atuais” alerta o médico.

De modo geral, as relações sexuais não estão proibidas durante o tratamento (a não ser que esta seja uma prescrição médica, claro). Abaixo, Marcelo Bragança lista uma série de cuidados importantes a seguir:

  • Durante o tratamento com quimioterapia ou radioterapia, deve-se evitar a gravidez, pois o feto pode ser agredido. Converse com seu médico para saber qual o melhor método contraceptivo.
  • Homens em tratamento também devem evitar ter filhos, portanto o uso de camisinha é essencial.
  • E por falar em camisinha, seu uso também será fundamental enquanto o paciente estiver com a imunidade baixa. É possível que algumas infecções sejam transmitidas na hora do sexo, e a pessoa em tratamento não pode se arriscar!

  • Mulheres em tratamento podem apresentar secura vaginal, provocando dores durante as relações sexuais. Para aliviar a falta de lubrificação, existem diversos hidratantes vaginais e lubrificantes naturais. Converse com o médico e veja qual o melhor para você. Testar diferentes posições também pode tornar o momento mais íntimo e agradável.

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