sex. out 10th, 2025
Haddad

Diante da iminente derrota legislativa da medida provisória que propunha alterações no imposto sobre operações financeiras (IOF), a equipe econômica do governo já se mobiliza para desenhar alternativas capazes de recompor as receitas e preservar o equilíbrio fiscal. O movimento revela urgência e pragmatismo: mesmo com sinais de abalo, o núcleo gestor da Fazenda procura manter a governabilidade sem abrir mão dos compromissos sociais.

Da queda ao rearranjo fiscal

A decisão da Câmara de retirar a MP sobre o IOF da pauta representou um revés inesperado para o Executivo. A proposta, considerada estratégica, tinha como propósito gerar nova arrecadação e mitigar riscos ao cumprimento das metas fiscais. Agora, sem o respaldo do Legislativo, o governo precisa redirecionar o plano de ação.

Instantes após o desmoronamento da medida, dirigentes da Fazenda intensificaram o debate interno sobre cenários alternativos. A orientação do ministro é clara: só levar ao presidente aquilo que já esteja trabalhado e consistente, sem “vazamentos prematuros” que inflamem resistências ou especulações. Trata-se de um caminho tortuoso, onde cada opção precisa atravessar o crivo político e técnico.

As peças do quebra-cabeça em estudo

Entre as opções em discussão estão ajustes tributários que não dependem de nova lei — por meio de portarias e decretos — para elevar alíquotas em setores específicos, ou reaproveitar dispositivos fiscais já existentes. Alguns integrantes do governo aventam a possibilidade de rever isenções e benefícios tributários concedidos a determinados segmentos, cortando privilégios que o próprio Executivo classifica como distorções.

Outra frente coloca sob escrutínio programas correlatos, como incentivos fiscais municipais ou estaduais, além de medidas microeconômicas que impactem rentabilidade ou o custo de operações financeiras. Há, ainda, fórmulas de compensação via cortes orçamentários ou contingenciamento de emendas parlamentares, com ajustes que possam recuar até R$ 7 bilhões ou mais, conforme negociado com lideranças da base.

Por fim, fontes políticas ligadas ao governo mencionam a possibilidade de adotar mecanismo de “tributação administrável” sobre fintechs ou o mercado de capitais — ainda que essas propostas também sejam ferozmente contestadas entre aliados.

O duplo risco da pressa e da hesitação

Montar alternativas com pressa carrega perigo: erros técnicos ou rupturas inesperadas podem gerar insegurança no mercado e críticas políticas. Ao mesmo tempo, hesitar demais pode colocar em xeque o cumprimento das metas fiscais e dar munição à oposição para questionar competência.

O governo sabe que cada movimento será observado com lupa. Qualquer proposta que pareça “virar imposto novo” ou aumentar a carga tributária sofrerá resistência interna — especialmente entre aliados que alertam para o risco eleitoral. Em paralelo, adversários já ensaiam rótulos de “excesso tributário” para desqualificar novas medidas.

Estratégia de comunicação e costuras políticas

Para ganhar fôlego, o Executivo aposta numa tática de narrativa: apresentar essas medidas como “correções de distorções”, e não aumentos arbitrários de tributo. O argumento central é moralizar o sistema, atacando benefícios injustificados, equilibrando carga e enxugando privilégios. Essa versão busca Brasília, os governos estaduais e o eleitor.

Além disso, as negociações com o relator do Orçamento de 2026 ganham protagonismo, para que parte das perdas na arrecadação — com a falha da MP — sejam diluídas no planejamento do próximo exercício fiscal. Também se estuda bloquear despesas consideradas menos prioritárias, especialmente em emendas não obrigatórias, para gerar margem de manobra.

Sobrevivência do projeto fiscal

O jogo montado nos bastidores define não só as contas do governo, mas a própria credibilidade da ambição desenvolvimentista. Se o Executivo conseguir reordenar o fluxo tributário e manter a confiança dos mercados — e principalmente da sociedade —, pode minimamente recuperar controle. Caso contrário, ficará à mercê das tensões políticas que já se formam.

No tabuleiro fiscal, a partida mudou de fase. O desafio é transitar da improvisação para o controle sem abrir mão de metas sociais e políticas. E o vencedor dessa rodada poderá definir o tom da gestão nos próximos meses.

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